Enquanto a comunidade mundial clama por paz, diante dos horrores da guerra, e os brasileiros sofrem com a escalada da violĂȘncia social, sob a forma de racismo, feminicĂdio, homofobia e tantos outros tipos de crime, assistimos estarrecidos à manifestação patética e lamentĂĄvel de um empresĂĄrio cearense, o senhor Beto Studart, exibindo em vĂdeo uma arma e defendendo que se arme a população com punhais e peixeiras e sabe-se lĂĄ mais o quĂȘ. Um vĂdeo tenebroso, sob o pretexto de homenagear o presidente da RepĂșblica, revelando a natureza hedionda de ambos.
Além da arrogância caraterĂstica, a ação do empresĂĄrio embute uma cultura de preconceito e ódio que hĂĄ na elite fascista e reacionĂĄria do paĂs. Uma herança escravocrata, que usa a violĂȘncia como argumento de defesa, mas que na verdade é ferramenta de dominação e extermĂnio daqueles a quem se acostumaram a explorar e subjugar: o povo pobre. Beto Studart deixa a nu a barbĂĄrie que os ricaços estão dispostos a implementar para manter intactos seus privilégios.
O estudo "ViolĂȘncia armada e racismo: o papel da arma de fogo na desigualdade racial", do Instituto Sou da Paz, mostra que, dos 30 mil assassinatos por agressão armada em 2019, 78% foram contra pessoas negras. Dados do "Monitor da ViolĂȘncia" mostram que, em 2020, no Brasil, 78% dos mortos pela polĂcia eram negros. O estudo "Pele alvo: a cor da violĂȘncia policial", de 2021, aponta que, a cada quatro horas, uma pessoa negra é morta em ações policiais (apenas em seis estados). O senhor Beto Studart pode até não dominar os nĂșmeros acima, mas, ainda que da bolha dourada que sua fortuna lhe proporciona, não tem como ignorar o sofrimento dos jovens negros e pobres do nosso paĂs.
É o que Jessé Sousa define como "elite do atraso". E recorro às palavras deste grande intelectual brasileiro para concluir: "Isso é o mais caracterĂstico do Brasil: o ódio patológico ao pobre. É a doença que nós temos. A gente nunca assumiu a autocrĂtica de que somos filhos da escravidão, com todas as doenças que a escravidão traz: a desigualdade, a humilhação, o prazer sĂĄdico na humilhação diante dos mais frĂĄgeis, o esquecimento e o abandono da maior parte da população. Esse é o grande problema brasileiro".
José Airton
Deputado Federal do PT
Fonte: Assessoria de Comunicação