Projeto de 2 alunas de escola pública do CE é premiado na maior feira de ciências do mundo

Por Ester Ferreira em 16/11/2023 às 08:13:26
Foto: Reprodução

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O plano começou a ser elaborado no canto da sala de um dos laboratórios da Escola Estadual de Ensino Profissionalizante Antônio Rodrigues de Oliveira, em Pedra Branca, no interior do Ceará. A ideia que unia a filtragem de água e o uso de uma planta típica da região afetada pela escassez hídrica surgiu em 2022, e envolveu os professores Renato Moreira e Rafael Saraiva e das alunas Lauanda Vitoriano e Kalyne Falcão, à época, no 2º ano do Ensino Médio.

Do planejamento à testagem do protótipo passaram-se alguns meses e, em 2023, o filtro ecológico, nascido no Sertão Central do Estado, foi premiado na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace). Não parou aí. A premiação levou as 2 alunas e um professor à maior feira de ciências do mundo para o público pré-universitário: a Feira Internacional de Ciências e Engenharia (International Science and Engineering Fair - ISEF) nos Estados Unidos.

O projeto desenvolvido na escola que une o tempo integral à educação profissional, com 499 alunos, teve o potencial reconhecido em premiações regionais, nacional e internacional.

A ideia assegurou a participação em distintos eventos, o que garantiu às alunas, além de experiências, contatos, reconhecimentos, prêmios e a 1ª viagem internacional.

No percurso, a iniciativa chamou a atenção dos representantes do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) - autarquia que administra o serviço de saneamento básico - da cidade Pedra Branca.

O interesse levou ao debate sobre a viabilidade de replicar o protótipo para funcionar em grande escala, de modo a utilizar essa forma de limpeza de água no sistema da cidade, por exemplo.



Caminhos das premiações

O projeto gestado desde 2022 já rendeu ao grupo diversos reconhecimentos. As estudantes relatam que o primeiro passo foi ingressar na turma de projetos científicos da escola que é acompanhada pelo professor Renato. Elas fizeram uma seleção e passaram. Naquela altura, já manifestaram interesse em projetos que envolvessem água e formas de tornar a substância potável.

Nesse percurso, explica Renato, os estudantes precisam estudar artigos científicos. "No decorrer do processo, elas foram se apropriando do projeto e isso o tornou muito delas", destaca o professor.

A trajetória de reconhecimento em 2022 teve início com a participação no Ceará Científico, uma iniciativa da Secretaria de Educação do Estado (Seduc) em curso desde 2016 que destaca pesquisas científicas de estudantes e professores. O projeto venceu a etapa escolar (concorre com projetos da própria escola), a regional (com projetos de escolas dos municípios da região) e ficou em 3º na categoria Ciências e Engenharias na estadual.

Em paralelo, foi selecionado para a final da 21ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), a maior feira de ciência e tecnologia do país promovida anualmente pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e realizada pelo Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico (LSI-TEC).

Na Febrace, as duas alunas e os dois professores passaram uma semana em São Paulo em março de 2023. Dentre as atividades, elas realizaram a apresentação do projeto para distintos avaliadores, que são pesquisadores vinculados a universidades. Ao final, dentre outros prêmios, conquistam o 1º lugar geral na Feira na categoria Ciências Exatas e da Terra.

"Tem o lado da ciência, da competição, da bagagem de conhecimento que elas vão levar pra vida, dos contatos, mas o principal é o desejo de desenvolver algo que tem valor social", diz o professor Renato. "Na Febrace, quando as pessoas viam nosso projeto, viam a gente falando, elas entravam no nosso projeto e percebiam a questão social. As pessoas gostavam muito", completa Kalyne.

O reconhecimento garantiu ao grupo a participação na Feira Internacional de Ciências e Engenharia (International Science and Engineering Fair - ISEF), em Dallas, nos Estados Unidos, em maio de 2023. A ISEF é a maior feira de ciências do mundo voltada para o público pré-universitário O prêmio garantiu a viagem com tudo pago.

"A gente gritou tanto quando ganhou. E logo em seguida caiu a ficha: a gente não sabe falar inglês. O que vamos fazer agora?", relata Lauanda.

A apresentação ocorreu e no evento elas apresentaram o projeto a pesquisadores do mundo todo. "Sabe quando dá aquele frio na barriga e a gente fica feliz com o que está acontecendo? A gente fez nossa apresentação toda em inglês. E falou em inglês, português e espanhol", relata Kalyne.

Na feira, elas foram contempladas com o Prêmio USAID Science for Development, ficando com o 1º lugar na categoria de Proteção Ambiental e Climática. O grupo recebeu uma quantia em dinheiro.

"Quando falaram Pedra Branca eu comecei a gritar. O Brasil inteiro (outras delegações do Brasil que estavam no evento) vibrou com a gente. A gente pegou muito o projeto para gente. Sabe quando você cria um amor pelo que está fazendo?", destaca Kalyne.

Fonte: Diário do Nordeste

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